Diabesidade é o termo usado para falar do paciente que tem diabetes tipo 2 e obesidade, duas doenças crônicas e complexas, normalmente relacionadas (de 80% a 95% das pessoas com diabetes tipo 2 são obesas), consideradas grandes preocupações da saúde pública. São doenças que, apesar de preveníveis e tratáveis, reduzem a expectativa de vida e comprometem a qualidade de vida do ser humano.
Dados da Pesquisa Vigitel divulgados em 2019 pelo Ministério da Saúde mostram que a obesidade aumentou 72% no Brasil, entre 2006 e 2018, passando a atingir 20,3% da população. O número de pessoas com diabetes tipo 2 também cresceu de 5,5%, em 2006, para 7,4% da população, em 2018, um aumento de 35%.
Essas duas doenças causam muitos problemas para o paciente, que vão desde físicos até emocionais. E, apesar de serem velhas conhecidas da classe médica e dos gestores de saúde pública, voltaram à tona com a pandemia. Estão entre os principais fatores de risco para os pacientes contaminados.
Balanço diário dos casos de COVID-19 divulgado pelo governo do Estado de São Paulo aponta que o diabetes tipo 2 é o segundo principal fator de risco nos óbitos registrados, atingindo 43% das vítimas. Fica atrás apenas das cardiopatias, com 57,91% dos casos. A obesidade, sozinha, aparece como fator de risco em 6,9% dos casos. Apesar de não haver dados consolidados sobre o número de pacientes internados em estado grave por Covid-19 que são obesos, a prática mostra que, neles, a doença tem uma tendência maior ao agravamento.
Alguns fatores colaboram para isso. Pessoas com obesidade possuem um sistema imunológico mais comprometido e, por consequência, são mais suscetíveis a uma infecção viral. Outro ponto é que a obesidade já provoca uma inflamação generalizada no organismo do paciente, que baixa a imunidade. E ainda tem o fato de o paciente obeso ter uma restrição em sua capacidade respiratória, porque o diafragma não consegue se movimentar adequadamente e o tórax não expande como deveria. Aqui, fica uma pergunta: será que os índices de óbito seriam tão alarmantes se tivéssemos essas doenças sob controle?
Diante desse quadro, as cirurgias bariátricas e metabólicas, que foram suspensas pela pandemia por serem consideradas eletivas, foram reclassificadas como cirurgias eletivas essenciais e voltaram a ser realizadas em muitas regiões do país, inclusive na RMC (Região Metropolitana de Campinas). O CFM (Conselho Federal de Medicina), com o apoio da SBCBM (Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica), emitiu uma recomendação que considera que pacientes portadores de doenças graves e/ou crônicas, como a obesidade e o diabetes, precisam de tratamento, e que sua postergação pode resultar no aumento da morbidade e da mortalidade. Na prática, os riscos de operar um paciente obeso durante a pandemia são menores do que deixá-lo obeso.
Diabetes e obesidade possuem tratamento similares: dietas, exercícios físicos, medicamentos e cirurgia bariátrica ou metabólica. As duas cirurgias são o mesmo procedimento, mas com finalidades diferentes: a bariátrica visa a perda de peso; já a metabólica, que pode ser feita inclusive em pacientes com IMC (Índice de Massa Corpórea) menor que o exigido para a bariátrica, tem como objetivo tratar o diabetes.
Estudos mostram que a perda de 5% a 10% do peso já melhora o controle glicêmico do paciente e, consequentemente, o diabetes. Esta perda de peso costuma ser alcançada já no primeiro mês após a cirurgia. Mas também percebemos que muitos pacientes apresentam melhora significativa do diabetes logo após a cirurgia, antes mesmo de ter uma perda considerável de peso, já que cirurgia metabólica causa uma alteração de hormônios relacionados à obesidade e estimula a produção de substâncias que reduzem a resistência à insulina, além de preservar o pâncreas, que passa a produzir insulina de melhor qualidade.
Mas é importante destacar que a retomada de cirurgias bariátrica e metabólicas durante a pandemia precisa cumprir um rígido protocolo, afinal, precisamos garantir que os pacientes submetidos a cirurgia não sejam contaminados, não contaminem a equipe e não prejudiquem o atendimento de pacientes com COVID-19.
Um dos principais pontos que precisam ser observados é a estrutura hospitalar local disponível. Cada cidade tem uma realidade diferente na pandemia e é preciso levar essas características em conta na hora de fazer a indicação. O hospital precisa ter leitos na enfermaria e na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) disponíveis. Também é importante que o hospital possua um fluxo hospitalar ´free covid´, em que o paciente bariátrico não tenha qualquer contato com a ala dos pacientes com COVID-19 e, claro, além disso tudo, há os cuidados individuais, tanto com o paciente quanto com a equipe. Também há restrição da cirurgia a pacientes com mais de 60 anos, a pacientes contaminados ou que já tenham indicação pré-cirúrgica de utilização de UTI (Unidade de Terapia Intensiva).
Ainda não sabemos por quanto tempo vamos vivenciar as consequências dessa pandemia. Portanto, além de todos os cuidados que cada um nós deve tomar, é importante reduzir os fatores de risco.
Sobre Admar Concon Filho
Dr. Admar Concon Filho é cirurgião bariátrico, cirurgião do aparelho digestivo e médico endoscopista. Palestrante internacional, presidente do Hospital e Maternidade Galileo e fundador e coordenador do Grupo de Cirurgia Bariátrica de Valinhos. Também é membro titular e especialista pelo Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva, Colégio Brasileiro de Cirurgiões e Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva, além de membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica e membro da International Federation for the Surgery of Obesity and Metabolic Disorders. CRM – 53.577
Informações à Imprensa:
Capovilla Comunicação
Patrícia Capovilla
(19) 99284-1970