Começo hoje como colunista deste conceituado jornal e gostaria de abordar um tema muito importante: a obesidade, uma doença que atinge 1 a cada 5 brasileiros adultos. Se levarmos em conta o sobrepeso, os números são ainda maiores, já que mais da metade da população está acima do peso considerado ideal. Esses dados estão em um relatório divulgado este ano pelo em conjunto pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e a Organização Pan-americana de Saúde (Opas).
O problema da obesidade não é a questão estética, apesar de fazer tantas pessoas viverem infelizes com o que veem no espelho. O problema maior é que ela vem acompanhada de muitas outras doenças, que chamamos de comorbidades, e que podem causar até a morte. As pessoas com obesidade vivem menos. E, muitas vezes, têm uma vida cheia de privações por causa do excesso de peso. Nas palestras mensais que faço no Grupo de Cirurgia Bariátrica de Valinhos, pergunto aos presentes quantos obesos eles conhecem com mais de 80 anos. A resposta, quase sempre, é: nenhum. Isso porque a estimativa de vida de um obeso é menor.
Mas então, por que as pessoas ficam obesas? Há inúmeras causas, entre elas, fatores genéticos, ambientais e sociais, mas algumas linhas de pesquisas mais recentes apontam um outro motivo muito importante: o cérebro dos obesos é diferente do cérebro de uma pessoa magra. Um estudo feito na Unicamp, aqui pertinho da gente, aponta que a obesidade é causada, principalmente, por algum erro no processamento de informações que chegam ao sistema nervoso central. Por isso, obesidade não é relaxo. A sociedade precisa parar de rotular os obesos como desleixados.
A verdade é que as pessoas obesas vivem histórias parecidas. Passam por várias fases, com dietas malucas, uso de remédios sem acompanhamento médico e tentativas frustradas de mudar os hábitos. Emagrecem e voltam a engordar, em muitos casos, superando o peso inicial. A obesidade é, sem dúvida, um dos grandes problemas de saúde pública do nosso século.
Hipertensão arterial, diabetes, colesterol alto, esteatose hepática (gordura no fígado), entre outras doenças, encabeçam a lista de problemas na vida do obeso, mas não são só eles. O medo de sentar em uma cadeira de plástico, as brincadeiras de mau gosto dos amigos, a dificuldade para amarrar um sapato, para comprar roupas, a falta de disposição para sair, para brincar com os filhos… tudo – ou quase tudo isso – faz parte da realidade de quem está muito acima do peso.
Felizmente, hoje temos tratamentos eficazes para combater a obesidade, como as cirurgias bariátricas. Mas sobre este assunto, a gente conversa na próxima coluna.
Dr. Admar Concon Filho é cirurgião bariátrico e médico endoscopista. Lidera o Grupo de Cirurgia Bariátrica de Valinhos